quarta-feira, 30 de julho de 2008

Vou dar-lhes um tempo dos meus textos e postar, dessa vez, um mais bem feito!
Ele é um dos meus poetas preferidos e o poema que vou postar é meu preferido dele! Degustem-no!

Psicologia de um Vencido (Augusto do Anjos)

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme - Este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

(Em 1909)

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Amor,

Venho por meio desta epístola, chorar mágoas e pedir perdão. Digo-lhe o que és, de fato, para mim e como te vejo, tal qual, te olham outros olhos.

Você tem olhos de céu, lábios de cereja, cabelos de ouro, pele de pêssego, nariz de boneca, mãos de princesa, lágrimas de brilhante, dentes de pérola!

Com dor no coração, digo-lhe que foram por estes motivos que eu resolvi trocar-te pela outra. Esta outra que tem olhos de olhos, lábios de lábios, cabelos de cabelos, pele de pele, nariz de nariz, mãos de mãos, lágrimas de lagrimas, dentes de dentes!

Peço, com lágrimas escorrendo pelo semblante, que me perdoe, mas a perfeição já não é o bastante para mim!

Heitor Godau – 23/07/2008

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Criação e Nêmesis

Todas essas pessoas passando pra lá e pra cá, como se soubessem o que querem, da onde vem ou pra onde vão. Talvez elas saibam onde estarão no segundo seguinte, mas e se aumentarmos isso pra minutos, horas ou milênios...nada sabem, malditos humanos! Eles são tão ignorantes quanto eu, a diferença é que precisam pensar porque vivem ao invés de simplesmente viver. Eu sempre os olho aqui de baixo, poucos me vêem, a maioria quase pisa em mim todos os dias, ou porque querem me exterminar ou porque não me viram mesmo de tão insignificante que sou para eles, malditos humanos! Mal sabem eles que somos iguais, lutamos pelo mesmo motivo, temos as mesmas esperanças, somos regidos pelas mesmas leis da natureza. Então o que há de tão diferente entre um maldito humano e uma maldita barata? Comemos lixo, mas eu como os lixos que eles não querem mais e eles comem o lixo pensando que não é lixo. Ando por lugares frios, sujos, úmidos, cheio de outras pestes e seres do submundo. Eles andam por suas cidades sujas, escuras, frias, com prédios que tapam a luz do sol, e fábricas que acinzentam o céu, achando que tudo é muito diferente de onde eu vivo. Eles tentam manterem-se vivos com esperança no futuro. Eu tento manter-me viva com esperança do dia que eles sumirão. Somos iguais, somos tão parecidos que eu os faço lembrar como são sujos e repugnantes, sou a criação e a nêmesis, sou tão eles quanto eles a mim. Isso os deixa furiosos, por isso eles querem me esmagar, acabar comigo, por isso têm medo de mim, pavor, asco. A barata é a alma livre dos malditos humanos!

Heitor Godau – 21/07/2008

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Sonhos

Tudo aconteceu a noite, é como sonho, vai ser esquecido. Sonho é esquecimento, é nada e mais um pouco. É pó e poeira em dia de vento. Noite e sonho andam juntos e desaparecem juntos, vão se apagando e se perdendo enquanto as horas passam, não passa de fingimento bem fingido. Sonho é gravado na gente a lápis, com o tempo some e nem precisa de muito pra isso. Se é bom ou ruim não tem diferença. Vai sumir do mesmo jeito. Assim são lembranças noturnas. São boas demais pra alguém acreditar, mesmo quando parecem pesadelos. Tudo é confuso e abstrato. Mas acredite. Julgue sua vida pelas mentiras sinceras sonhadas e torne-se um sonho junto com seus. Ainda estarei aqui pra te dar um abraço!

Heitor Godau - 17/07/2008