quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Mudou?

Como isso mudou... ou fui eu que mudei de óculos?

terça-feira, 18 de maio de 2010

E pensar que um dia eu pensava...

sábado, 6 de junho de 2009

A Estação

O metrô para na estação e uma voz oculta anuncia o nome dela, enquanto isso o cigarro vai queimando lentamente mesmo sem ter uma boca na ponta amarelada sugando a nicotina. Uma cerveja gelada e dourada desce a garganta inflamada anestesiando o cérebro depressivo. A grávida chora, pois é isso que seus hormônios mandam, sobre o corpo do amante. A faca suja ainda está enterrada na barriga do desonesto e machista. Um falso deus assiste a tudo de sua televisão com chuviscos e fantasmas. Ele foi colocado ali por pessoas que nem tiveram conhecimento de sua existência. O falso Deus chora como um bebê ao ver nossas almas em sua TV Digital. O cigarro ainda queima, quase no fim do tabaco. As armas apontam para a mulher grávida enquanto suas mãos são algemadas e seu bebê se prepara para nascer nas próximas 32 horas. E assim sendo, o metrô segue para a próxima estação.

Heitor Godau – 14.03.2009

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Sou Muito...

Sou muito Mais.
Tenho um sonho sem corpo e sem futuro. Tenho uma linha verde correndo no centro de meu peito sem oscilações.

Sou muito Menos.
Tenho lamentos que abalam núvens e frases. Tenho lágrimas que enxugam pisos de banheiros.

Sou muito Mais.
Tenho calendários que se injetam em meus espelhos. Tenho óculos que me desfocam da verdade.

Sou muito Menos.
Tenho suspiros que sopram relógios até faze-los sangrar segundos. Tenho rugas que escondem desertos religiósos.

Sou muito Mais.
Tenho visões paranormais que me cegam e não me deixam ver o universo. Tenho tinta e papel e quando os junto sou mais solitário que ambos separados.

Heitor Godau - 13/05/2009

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Um Átomo de Mim.

Não sei como entrei, apenas estava lá e todos choravam muito ou riam muito. Não importava a reação, mas era exagerada. Olhei para cada rosto no local afim de ver se conhecia todos. Não conhecia. Eu não chorava e odiava os que estavam chorando. Ninguém deveria sofrer mais que eu naquele momento. Tentei algumas palavras prontas de conforto, mas eram falsas e vazias. Se eu não conseguia ficar bem como querer que os outros ficassem? Finalmente cheguei ao caixão, deve ter levado infinitos cinco minutos. Ao ver o caixão recheado daquilo que deveria estar se mexendo, suando e falando como meu avô, corri e chorei, não exatamente nessa ordem. Apenas precisei de alguns segundos em oito anos de vida para compreender tudo o que precisavasobre como somos quando vivos e o que somos quando mortos. E esses segundos me ensinaram pelo que chorar, pelo que ficar calado, pelo que rir e pelo que fazer os outros chorarem, rirem ou ficarem calados

Heitor Godau - 27/04/2009

terça-feira, 21 de abril de 2009

Entre-Segundos

Dizem que pouco antes de morrer você ve sua vida passar como um filme. Na verdade, um segundo antes de morrer o tempo congela e você tem o infinito para pensar em tudo que quer pensar. Quando você se dá por satisfeito, a morte lhe mostra o fim do universo, o por quê das coisas, o sentido da vida (irônico, não?!) e todas as outras coisas que seriam inconcebíveis para uma mente viva, mas uma mente que paira no infinito, tudo isso é compreensível e muito bem aceito. Depois de tudo isso acontecer, a morte lhe tira do espaço e do tempo infinito que existe entre um segundo e outro, você volta pro seu espaço temporal, o ponteiro do relógio faz só mais um “tic” (pelo menos pra você) e você morre. Toda sua existência acaba aí.
Pois bem, eu estou nesse infinito atemporal que existe entre os segundos. Estou escrevendo tudo que aprendi aqui. Já estou aqui há muito tempo, pelo menos parece assim. Como é um espaço atemporal, os dias são iguais aos anos ou aos séculos ou aos milênios e assim por diante. Já aprendi muita coisa, pensei em muita coisa, e vivi muito mais entre segundos do que nos meus 52 anos de vida.
Cada um tem sua morte e para cada um ela é de um jeito, com um rosto, um vestido, uma aparência, mas ela tem o mesmo ar sátirico para todos. Pois ela conhece a vida a muito mais tempo e sabe o quão sátirica a vida é. Ela sabe que há muito escárnio na essência da vida, então a morte copia este escárnio para nos tratar na morte do mesmo modo que vivemos a vida: com muita sátira e muito escárnio.
Não sei porque escrevo. Foi a própria morte que me deu este caderno, então provavelmente ela irá queima-lo quando eu deixar este “entre-segundos”, como ela já disse que fez antes com outros morimbundos. Bom, acho que já chega de pensamentos e escritas, vamso logo conhecer o que tem para ser conhecido e acabar de vez com minha longa e simples existência.
Oh! Então assim é o fim do universo?! Inimaginável!
Hum! Então este é o porque das coisas?! Muito mais simples do que eu pensava!
Uau! Então esse é o sentido da vida?! Interessantíssimo!
Caramba! Então são tantas coisas que eu nunca poderia compreender?! Incontáveis!
Adeus!

Heitor Godau – 23/09/2007

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Conto 15 - O Conto do Velho e o Portão

E o velho caminhou de novo pela mesma estrada vazia, chegou ao portão enferrujado e perguntou ao vigia se ele abriria hoje e o vigia respondeu, como sempre havi a respondido nos últimos vinte e três anos: "hoje não, só amanhã". Ao escutar novamente a mesma resposta só restou ao velho virar as costas e voltar pelo caminho que veio.
No dia seguinte o vigia avistou o velho vindo pelo mesma estrada, no mesmo passo vagaroso e o mesmo olhar cansado de sempre. O velho chegou ao portão e perguntou se ele abriria hoje, o vigia respondeu: “Hoje não, só amanhã”. O velho baixou o olhar, tentou dar uma espiada do outro lado do portão, tentou sugar no ar alguma esperança, virou as costas e foi embora novamente.
No dia seguinte o velho vinha pelo mesma estrada de terra, avistou o portão e como sempre o pé ia se fazendo de chumbo quando ele se aproximava do ferro enferrujado e do vigia. Quando chegou em frente ao vigia perguntou se o portão abriria hoje e o vigia respondeu: “Hoje não, só amanhã”. E o velho se foi mais uma vez.
Mais uma vez o velho estava chegando perto do portão enferrujado e do vigia, quando ele se sproximou o vigia deu um leve e quase imperceptível sorriso antes mesmo do velho perguntar e quando o velho perguntou se o portão iria abrir hoje o vigia respondeu: “Hoje sim, meu amigo. Hoje ele se abrirá”. O vigia pegou a única chave que estava em seu pescoço e a torceu dentro da grande fechadura de metal, esta gritou, gemeu e cedeu. O portão estava finalmente aberto. O velho olhou para o vigia, para o portão aberto, recuou e foi embora com o suor vazando medo e os olhos vazando decepção!
Heitor Godau – 06/04/2009