terça-feira, 21 de abril de 2009

Entre-Segundos

Dizem que pouco antes de morrer você ve sua vida passar como um filme. Na verdade, um segundo antes de morrer o tempo congela e você tem o infinito para pensar em tudo que quer pensar. Quando você se dá por satisfeito, a morte lhe mostra o fim do universo, o por quê das coisas, o sentido da vida (irônico, não?!) e todas as outras coisas que seriam inconcebíveis para uma mente viva, mas uma mente que paira no infinito, tudo isso é compreensível e muito bem aceito. Depois de tudo isso acontecer, a morte lhe tira do espaço e do tempo infinito que existe entre um segundo e outro, você volta pro seu espaço temporal, o ponteiro do relógio faz só mais um “tic” (pelo menos pra você) e você morre. Toda sua existência acaba aí.
Pois bem, eu estou nesse infinito atemporal que existe entre os segundos. Estou escrevendo tudo que aprendi aqui. Já estou aqui há muito tempo, pelo menos parece assim. Como é um espaço atemporal, os dias são iguais aos anos ou aos séculos ou aos milênios e assim por diante. Já aprendi muita coisa, pensei em muita coisa, e vivi muito mais entre segundos do que nos meus 52 anos de vida.
Cada um tem sua morte e para cada um ela é de um jeito, com um rosto, um vestido, uma aparência, mas ela tem o mesmo ar sátirico para todos. Pois ela conhece a vida a muito mais tempo e sabe o quão sátirica a vida é. Ela sabe que há muito escárnio na essência da vida, então a morte copia este escárnio para nos tratar na morte do mesmo modo que vivemos a vida: com muita sátira e muito escárnio.
Não sei porque escrevo. Foi a própria morte que me deu este caderno, então provavelmente ela irá queima-lo quando eu deixar este “entre-segundos”, como ela já disse que fez antes com outros morimbundos. Bom, acho que já chega de pensamentos e escritas, vamso logo conhecer o que tem para ser conhecido e acabar de vez com minha longa e simples existência.
Oh! Então assim é o fim do universo?! Inimaginável!
Hum! Então este é o porque das coisas?! Muito mais simples do que eu pensava!
Uau! Então esse é o sentido da vida?! Interessantíssimo!
Caramba! Então são tantas coisas que eu nunca poderia compreender?! Incontáveis!
Adeus!

Heitor Godau – 23/09/2007

Um comentário:

Mariana F. Bordin disse...

=)
A história do "entre segundos", e do segundo que pára me lembrou daquela história do Stephen king, da viagem em milionésimos de segundo, através de portais e etc!