segunda-feira, 2 de março de 2009

Sílabas de um Nome

Num raro distúrbio de clareza mental, descrevo uma biópsia n’alma e tal descrição faz a endorfina correr meu cérebro cumprindo quase que totalmente seu trabalho químico. Um estado depressiológico atinge meu figado que será avaliado, julgado e condenado pelo legista como necrose cirrótica. Meu cérebro em uma bandeja de inox, pronto pra ser servido aos melhores estudiosos canibais desta dimensão. Meus ossos estão prontos pra serem misturados com cal e pó de argamassa para rejuntar algum azulejo novo em uma velha vida. Meu coração, esse orgão tão destratado e rejeitado, esse não serve mais do que lavagem pra mendigos solitários. O sangue salvará vidas e os olhos verão a verdade, mas se perderão nas mentiras da boca, analisadas pelas orelhas. A genitália será jogada fora muito antes da decomposição, por fazer parte de tabus. Os vermes estomacais serão lavados e os rins roubados para assassinar um filho em uma operação mal-sucedida. Por fim, vivi a vida toda com um só nome para agora ter vários e não ser nenhum deles.

Heitor Godau – 27/02/2009

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