segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Seus olhos fitavam o velho cinema. A quanto tempo ela não olhava para ele?! Desde que seu pai morrera quando ela tinha treze anos, passou de família adotiva para família adotiva, não teve mais casa nem cinema, mudou de cidade, de vida, de paixões e de princípios. Mas agora, com vinte e cinco anos, em uma viagem de negócios foi parar na sua cidade natal, visitou seu bairro e olhava com carinho e saudade o cinema que a fizera sentir paixão quando era uma criança de cinco anos, que lhe proporcionara a melhor sensação de sua vida quando tinha dez anos e agora ela entrava como telespectadora pagante pela segunda vez, mas tudo era muito diferente. A mulher da bilheteria não era tão simpática quanto antes, ela caminhou pelo tapete até a catraca, mas faltava algo, o lanterninha apenas pegou o ingresso, destacou-o e nem a olhou no rosto. Ela assistiu ao musical e se pegou chorando. Era o mesmo cinema, o mesmo tapete, o mesmo cheiro de pipoca, a mesma cadeira...mas não havia mais seu pai, não havia suas mão grandes que a protegiam, não havia seus olhos que a acalmavam, seu sorriso que fazia ela crer que o mundo era apenas ela, ele e uma tela brilhante. A quinze anos atras esse fora o melhor momento entre todos que ela já teve ou terá um dia, mas quinze anos depois, ela sentia toda a tristeza, toda a saudade, toda a dor que ela aprisionara dentro dela desde os treze anos! E quando as luzes acenderam, ela continuou lá, chorando, quieta, até o lanterninha a expulsar do cinema para começar uma nova sessão.

Heitor Godau – 1/09/2008

Nenhum comentário: